Transparência de faz de conta
A Prefeitura de Tubarão parece ter reinventado o conceito de transparência. De acordo com a lei sancionada em 2023, o cidadão deveria saber quanto custou produzir e veicular cada peça publicitária. Na prática, porém, o que se vê é um verdadeiro festival de letras microscópicas e informações pela metade.
O invisível está no ar
Nos anúncios oficiais, o valor da publicidade até aparece – mas em tamanho digno de bula de remédio. Em alguns casos, como nas mesas da praça de alimentação do Farol Shopping, a “transparência” foi literalmente borrada ou cortada.
O que a lei manda (e o que ninguém cumpre)
A norma é clara: deve-se informar o valor da produção e da veiculação. Mas a prefeitura tem se limitado a divulgar apenas o preço por dia de veiculação, omitindo o número total de dias contratados. Resultado: o cidadão continua sem saber quanto realmente foi gasto – exatamente o oposto do que a lei prometeu.
Quer um exemplo?
Em setembro, este portal recebeu uma Autorização de Veiculação para reproduzir a campanha “Investimentos com Educação”. No banner, constava “A Prefeitura de Tubarão pagou R$ 330,00 na veiculação deste anúncio”. Então, você deve achar que esse foi o valor total, correto? Mas não, esse foi o valor por dia.
Agora, quantos dias foram? Quanto custou para produzir a peça? Em breve no Portal da Transparência (quem sabe daqui uns dois meses).
Transparência com filtro
Se o objetivo era “dar publicidade aos gastos com publicidade”, o resultado ficou meio fora de foco. Entre letras minúsculas, trechos cortados e valores parciais, o contribuinte precisa de lupa – ou da fé – para acreditar que a lei funciona.
Depósito de imprensa
Há dias, uma poltrona quebrada repousa — ou melhor, jaz — na Sala da Imprensa da Câmara de Vereadores de Tubarão. O móvel, que parece ter sobrevivido a mais mandatos do que alguns parlamentares, virou símbolo involuntário de como o espaço destinado à imprensa é tratado.
A sala, minúscula, volta e meia se transforma em depósito de tralhas. Não é a primeira vez. Parece que tudo que quebra, encosta ou sobra, vai parar ali. Talvez por ser o canto mais silencioso — ou o mais esquecido — da Casa.
As cadeiras destinadas aos jornalistas são um capítulo à parte: velhas, desconfortáveis e rangendo em protesto a cada sessão. Este que escreve e a colega Vera Mendonça, da Jovem Pan, que o digam — verdadeiras provas de resistência.
E embora os profissionais sejam sempre bem recebidos, a recepção que as cadeiras oferecem dá outro recado: o de que o conforto de quem cobre o trabalho dos vereadores parece não fazer parte da pauta.
Virou moda em Capivari de Baixo
Já faz um tempo que alguns políticos de Capivari de Baixo têm usado o termo “Nota à Imprensa” para divulgar seus trabalhos. Só que, na prática, o conteúdo é uma matéria jornalística — ou pelo menos tenta ser.
Vamos valorizar os profissionais da imprensa: existe diferença entre NOTA e MATÉRIA.
Nem tudo que sai com um título formal é informação oficial; nem toda notícia é um comunicado institucional. Reconhecer isso é respeitar o jornalismo — e o leitor.
“Não caiu na conta”
A partir desta coluna, pode ser que alguns pensem: “Ih… não caiu na conta!”
Pois é. Cai, sim — o Portal Infosul recebe publicidade institucional, como qualquer veículo sério. Mas, diferente do que muitos acreditam, imparcialidade e jornalismo de verdade ainda existem. E o Infosul prova isso todos os dias.
Inclusive, denunciando práticas que podem, sim, custar futuras publicidades, como já aconteceu em outras ocasiões. Porque a credibilidade, ao contrário dos anúncios, não tem preço nem contrato de duração.